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"Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é so um dia mais."
José Saramago

sexta-feira, dezembro 28, 2007

Retrospecto


Isto é algo que faço duas vezes por ano – no final do ano lectivo e agora.
Desta vez decidi publicar. Apenas me sento em algum lugar, respiro fundo e penso objectivamente acerca de tudo o que aconteceu durante o ano que está a acabar. Apenas para fazer um ponto de situação.


Foi um ano de surpresas.
Umas boas e outras menos boas. Se por um lado esperava fazer na faculdade muito mais do que fiz até Agosto, por outro fiz muito mais do que esperava a partir de Setembro.
Fiz uma viagem inesperada que me deu toda a energia para superar muitos obstáculos que encontrei daí em diante. Só lamento a dificuldade daquela língua, o que não me permite ir estudar para lá.
Depois a mudança inesperada de casa, que se tem vindo a tornar habitual, encontrei colegas que, apesar de não substituírem as anteriores, são fantásticas.
E outras tantas coisas que aconteceram pelo caminho...

Foi também um ano de sacrifícios.
Começou com algumas expectativas relativamente à faculdade, as quais não foram todas superadas, não sei se por ter o ego alto demais ou se, pelo contrário, o medo de voltar a errar me prendeu.
Ficar sozinha a estudar no meu aniversário e reprovar na oral dois dias depois foi quase traumático. Tive que repensar todas as minhas escolhas relativamente a um futuro profissional, mas creio que isso é algo que vou fazer nos próximos anos, dada a dificuldade do curso.
Felizmente estou a conseguir superar as expectativas previstas para mais um ano lectivo. Dizem que estou mais aplicada, eu diria mais entusiasmada.
Entendo o meu curso como um namorado a quem tenho que sorrir mesmo que por vezes não me apeteça muito, do qual tenho que cuidar para a relação não terminar.

Foi um ano de loucuras.
Muitas loucuras. Vivi ao longo de todo o ano um sem número de doces loucuras que guardarei para sempre, as quais não creio ser importante denominar.
Faria tudo vezes sem conta sem arrependimentos.
Conheci muitas pessoas, algumas muito interessantes, por sinal, que passaram a fazer parte de um número restrito a quem chamo amigos.
Vivi noites e dias de forma tão intensa como não imaginava ser possível.
Apaixonei-me, duvidei da paixão.

Foi, finalmente, um ano de conhecimento e aprendizagem.
Além das pessoas que fazem, agora parte da minha vida, foi um ano de conhecimento próprio, sempre positivo.
Conheci algumas das minhas limitações enquanto ser humano que sou.
Aprendi a fazer da solidão uma arma forte de liberdade. Isso permite-me ter uma vida independente e aproveitar cada momento como único.
Aprendi a dar valor aos meus amigos próximos, deixando alguns fantasmas do passado no respectivo lugar. E isso faz de mim uma pessoa mais saudável.


A todos os que por aqui passam, e aos demais,
desejo que o ano novo que se aproxima seja recheado de doces surpresas!

Feliz 2008!

terça-feira, dezembro 18, 2007

Escravos do azar




(Ver também: Turno da noite)

Regresso ao 'turno da noite'. Volto a deixar de ser a Mária, estudante, e transformo-me na mari, observadora.
Mais uma noite gelada. Hoje concentro-me apenas numa parte da população, dispersa pelos vários cantos do nosso mundo. Refiro-me aos escravos do azar.

Passam vidas inteiras na rua.
Alimentam-se de ar, muitas vezes poluído, e tudo o que recebem é tantas vezes desprezo.
Agarram-se à vida que não têm, com que gostavam de sonhar. Temem!
Alguns desejam apenas saúde e um sítio para dormir.
São pequeninos e esqueléticos mas conseguem ter um coração enorme!
São os escravos do azar.
Dos recém nascidos aos mais graúdos, nenhum pediu para nascer, nenhum imaginou que a vida seria uma morte antecipada.
Infelizmente, a maioria de nós só olha para eles nesta altura do ano, em que os corações ficam mais abertos, em que a sensibilidade anda no ar.
Também será estranho e de apontar o dedo o facto de eu escrever sobre este tema precisamente agora.
Na realidade, também eu ganho mais afectividade a estas causas nesta altura em que o frio aperta, esquecendo tantas vezes que o calor não lhes mata a fome.

Eu achava que o Natal era uma época hipócrita, talvez a mais hipócrita do ano, em que as pessoas sorriem porque fica bem, ajudam para não parecer mal.
Hoje tenho dúvidas.
Começo a pensar que, pelo contrário, esta é a única altura em que não existe receio de sorrir e de dar, nem medo de ficar com um pouco menos para dar um pouco mais a quem nada tem.

Aos escravos do azar!
Aquelas pessoas simples que sorriem com tão pouco, que contagiam tanto com apenas um sorriso, para quem uma insignificância vale o mundo.
Aboliu-se a escravatura mas os escravos continuam a existir em números estrondosos, no nosso país e no mundo inteiro.
São os escravos do azar.

Hoje volto a ser metade de mim, escrevendo e divagando à média luz, sob a lua coberta de nuvens.
Resta-me acreditar na consciência das pessoas e na força (quase sobrenatural) dos sobreviventes, aqueles escravos à força, nesta noite húmida e fria, que não lhes consegue servir de abrigo.


Sorrir-lhes será o primeiro passo?...

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Amor com medida

Despediram-se com um beijo. Especial e único como todos os outros. Ela ficou a vê-lo partir, mentalizando-se da dura realidade.
Conduziu-se instintivamente até ao cais, o refúgio secreto. Esse era uma parte dela que o rapaz não teve oportunidade (ainda?) de conhecer.
Sentou-se junto da água, apertando os joelhos contra o peito. Quereria afastar o vazio? Talvez…
Seria aquele o primeiro dia de liberdade? O primeiro dia de tormento? Ou o primeiro dia de mais uma separação que ocupa o tempo de uma eternidade e o espaço de um vendaval porque vivida e sentida como tal?
Fechou os olhos, tentou segurar as lágrimas. Impossível.
Olhou o rio, conversou com as ondas miúdas, sentiu-se observada pela lua e aconchegada pelo céu limpo e estrelado.
E assim ficou, tendo perdido a noção do tempo. Naquela noite não tinha planos nem obrigações. Pertencia-se a si própria por um prazo indeterminado.
Levantou-se e seguiu.
Nesse momento percebeu que afinal o amor tem uma medida e que a felicidade tem um preço.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Encruzilhadas


Olhares a preto e branco
Na descoberta das cores do mundo.
A cada passo dado tenho mais a certeza de não querer voltar para trás.
Sinto-me bem!
Hoje acordei cedo…
Estou feliz mas cansada.
Dizes que sou
Boa na cama
Então Deita-te aqui
Sou eu
Adormece comigo.
Ganhar tempo agora
Para melhor viver
A vida
Olho a bolacha que tenho na mão
Passou connosco por um Naufrágio
E permanece intacta…
…Como o ‘nós’!


Com ou sem sentido foi isto que calhou.

Compor um post em prosa/conto ou poesia com o título dos últimos 10 posts, usando outras palavras, pelo meio, para dar sentido ao todo, é o objectivo do desafio que me foi lançado pelo meu amigo Dias… Pois porque na blogosfera também se fazem amigos!
Dos posts sem título retirei as primeiras palavras.

Da mesma forma, lanço o desafio a:
Tufa tau
Visão Caleidoscópica
Bia.

Um beijinho enorme com desejos de excelente fim-de-semana!

domingo, dezembro 02, 2007

Olhares a preto e branco


São olhares que nos transcendem
Gestos que nos param
São mãos que se estendem
Palavras que nos esmagam...
...e se separam.

São verbos insanos
Com cheiro a pecado
Sensações de ansiedade
Turbilhões de pensamentos.
Mas cuidado!
Os olhares estão atentos
O mundo está vigiado...
...e viciado!

São corpos que se esbatem
Entre o calor e a neblina,
Que se aproximam
Fazem eco, não sei porquê.
Cuja dor cresce em surdina
Mas não se sabe,
Ninguém a vê!

Valerá a pena explicar?
Explique-me a mim quem me lê...