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"Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é so um dia mais."
José Saramago

sábado, janeiro 26, 2008

A minha vida não tem tectos.


A minha vida não tem tectos.
Por isso, fechar-se uma porta ou uma janela não implica a perda da claridade.
Aqui cresço sempre: as escadas vão dar ao infinito e todos os degráus são importantes e, quiçá, únicos.
Quando sinto necessidade de descer – para depois subir com mais vigor – raramente piso o mesmo.

Porque a vida – metaforizada nesta escada – é como um rio que corre, e porque o tempo é como o vento que o sopra sempre em frente, cujo retrocesso implica uma nova tentativa e não a repetição da mesma em eco.

sábado, janeiro 19, 2008

Oh, chama-se vida!


As rasteiras da vida tornam-nos pessoas melhores.
Fazem-nos encarar o mundo de outra forma, porque passamos a vê-lo precisamente de outra perspectiva:
-juntinho ao chão, para apreciarmos melhor a sua grandiosidade e tomarmos consciência da nossa exiguidade.
Nunca estamos preparados para novas situações.
E eu não sou excepção!
Mas vou dar este passo.
Apenas porque me apetece!
Um novo final e um novo começo.
Sim, novos, porque todos os anteriores foram iguais.
O passo? Não será maior do que a perna, e se for dou um salto.
Porque, felizmente, posso ser quem quiser. E saltar e correr. Dançar num palco mágico e subir ao céu.
E, se cair, será o chão o porto onde me agarro para não ser levada pelas ventanias do destino.
Um passo atrás poderá ser dado mas prefiro sempre evitá-lo.
Corajosa ou despreocupada? Não importa.


O importante?
Oh, chama-se Vida!

sexta-feira, janeiro 11, 2008

A boneca de porcelana


É a boneca mais linda que já vi – comentava quem passava.
Todos a olhavam com espanto, com encanto.
Na loja das porcelanas, fazia da montra a mais bonita lá do sítio.
Nem o dono a queria vender com medo de perder clientela.
E as cópias nunca eram iguaizinhas. Era perfeita aquela.

Um dia quebrou.

sábado, janeiro 05, 2008

A mudança

Aquele seria apenas mais um dia.
Saiu de casa, mala ao ombro e um estilo clássico, com traços fortes de uma vida dura.
Farta dos berros das crianças do andar de cima, que acordavam com fome a meio da noite, e do barulho - a que hoje se chama música - que ouviam os estudantes do andar de baixo; farta das cusquices do porteiro que, apesar de ser homem, controlava a vida dele e de todos os que por lá passavam; farta dos aviões que passava a cada 10 minutos; farta das conversas sem conteúdo do café da esquina e dos piropos inoportunos dos arrumadores de carros e dos serventes, que sempre existiam naquelas bandas…
Dormia sempre de televisão ligada para camuflar tanto banzé e sentir que era vida aquele estado de existência.
À hora marcada, chegava de táxi à morada que recebera por contacto telefónico.
Iria visitar um apartamento, “um achado”, “numa zona muito tranquila”, como terá dito a proprietária que se preparava para o despachar ao mais rápido interessado.
De facto, era um bom apartamento numa zona tranquila dos arredores de Lisboa.
Saiu satisfeita, prometendo ligar dentro de dois dias para confirmar a compra e tratar da papelada.
“Não se vai arrepender!” retorquiu a proprietária.
Saiu e procurou um café. Andou e andou, certa de que o que precisava era tempo para conhecer a zona.
Não se via vivalma.
Uma série de terrenos baldios em desordem, separados por meia dúzia de prédios e edifícios pré-fabricados decoravam a paisagem.
Encontrou então uma tasca, vazia e de mau aspecto.
“Aqui não se fuma!” foram as palavras de boas vindas.
Tomou café e simplesmente saiu.
Chamou um táxi e voltou para o seu bairro.
Passou pelo sem abrigo od costume e lançou-lhe uma moeda; lanchou no café da esquina e subitamente as conversas ganharam interesse; entrou no prédio e logo foi a
bordada pelo porteiro, “está muito bonita hoje”, e sorriu-lhe; até convidou para jantar a velhota simpática que vivia na porta da frente desde sempre, cujo nome nem sabia.
Foi então que aquela mulher de traços fortes percebeu que, afinal, fortes eram os laços que a ligavam àquele bairro e àquelas gentes.
Deitou-se e… naquela noite dormiu de televisão apagada!


…Porque tantas vezes só damos importância ao que já não temos ou estamos prestes a perder…
…Porque tantas vezes a única coisa que está mal é a forma como olhamos o mundo…
…Porque, simplesmente, somos humanos.