Subiu ao palco.
A mais um palco.
Não estava nervosa mas tinha receio de se enganar, por não ter treinado bem os passos.
Tentou e enganou-se.
Tentou de novo.
Voltou a enganar-se.
Voltou a enganar-se.
Fechou os olhos.
Respirou fundo.
Esqueceu a coreografia.
Sorriu.
E recomeçou.
Esqueceu a coreografia.
Seguiu unicamente o batimento do coração.
Seria esse o único ritmo que interessava.
O palco transformou-se numa nuvem.
Macia.
Macia.
Sentia-se exactamente nas nuvens.
E naquela sala não havia mais ninguém.
Apenas ela.
E a sua nuvem.
E o seu sorriso.
Não havia café que a fizesse tremer nem pedaço de sol que a encadeasse.
No final apenas se deparou com uma sala cheia de gente a bater palmas, um barulho ensurdecedor.
Sabe que aquele momento valeu a pena.
Por ela e para os outros.
Ir contra as regras por vezes vale a pena.
Improvisar vale a pena.
Ser poeta num palco.
Bailarino na vida.
Viver. Vale a pena.