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"Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é so um dia mais."
José Saramago

segunda-feira, setembro 21, 2009

Mais para ti

Celebra-se hoje o Dia Mundial da doença de Alzheimer. Aquela que aparece lentamente, cujos sintomas são pequenos e insignificantes esquecimentos, mas que o passar do tempo e o avançar da idade transformam numa doença grave e sem retorno.


Tu foste só mais uma vítima no meio de milhares meu anjo. Infelizmente. Esquecias-te do avô, da mãe e de nós, querias ir fazer comida para os teus pais, dizias que aquele “hospital” tinha o chão igual ao da tua casa (porque era mesmo a tua casa e não a reconhecias), tentavas fugir, tiravas a chave da porta, tinhas ataques de hipotermia… Enfim, tantas coisas que nos assustavam.

Mas quando voltavas a ti eras a pessoa mais doce do mundo. Gostavas de beijinhos, de atenção, de carinho. Abraçavas-nos com espanto e com alegria, como quem não nos via há anos e estava cheia de saudades.

E tinhas um sorriso do tamanho do mundo.

Agora já não tens aqueles ataques, já não te esqueces de nós, já não foges de casa.

Mas também já não te podemos dar beijinhos, nem abraços, nem podemos ver o teu sorriso e dizer como estás bonita com o cabelo arranjado.

Já não te posso chamar piquena, nem canita, já não podes dizer que estou crescida.

A realidade é que quando me disseram há dois dias “vem ali a tua avó”, hesitei… O mais normal seria perguntar qual e, caso fosses tu, ir-te ajudar e abrir-te a porta.

Agora tens uma nova morada.

Já não necessitas dos nossos cuidados nem dos nossos mimos. Já não necessitas dos beijinhos.

Agora sentes tudo de uma outra forma, uma forma que não necessita de um corpo, da parte física.

Agora és mais livre que nunca meu anjo!

Que nó se formou dentro de mim quando te fui visitar! Ou melhor, quando fui visitar o teu corpo!

Porque, mais do que nunca, estás comigo, connosco.

A dor persiste, a saudade cresce.

Adoro-te!

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(prometo que vou trazer uma foto para mostrar a todos como eras bonita)

segunda-feira, setembro 14, 2009

Para ti avó!

Para ti o mundo sempre foi pequeno. Tu, que não tinhas medo da escuridão, e que andavas de mota com a facilidade de quem anda de triciclo.

Agora o mundo ficou mais pobre, muito mais pobre mesmo, mais frio, mais seco, MAIS INSUPORTÁVEL!

Gostava de dizer com um sorriso que sei que agora estás bem, porque a tua alma se libertou… de um cérebro que já lhe tirava a lucidez, de um coração já cansado de bater, de um corpo já pesado e já cansado de viver.

Gostava de te oferecer o meu sorriso sim, avó, mas as lágrimas não se cansam de saltar dos olhos e escorrer pela cara. Está difícil demais!

Agora és o meu anjinho!

Foste aquela avó paciente. Aquela que não ficava um Verão sem nos levar à praia, que nos ensinou que aquele túnel fazia um eco único, que nos dava o primeiro jantar de todos os dias (o outro era em casa), que fazia as melhores couves com feijão do mundo, os melhores bolos do mundo. Tinhas paciência para nos aturar aos serões (eu adorava os de Inverno, com a braseira de baixo da mesa que me aquecia todinha) e durante as tardes todas em que não tínhamos aulas ou estávamos de férias.

Eras aquela avó doce e brincalhona, que não dispensava o sorriso.

Mesmo quando estavas a sofrer! E sinto-me estúpida e egoísta por só conseguir chorar!

Obrigada, anjinho, por esse mesmo sorriso e pelos dois beijinhos, horas antes de teres partido, e por me teres conhecido nessa, que eu estava longe de imaginar que seria a última vez!

Eterna e inesgotável saudade