Tínhamos conhecido o grupo da Vila Nova, ilha Terceira, em Julho, por ocasião do nosso festival e através de um senhor, o grande Vieira, com quem o meu pai jogou no Vilanovense há 39 anos, e desde o início que percebemos que eram um grupo unido e sempre pronto para tudo. O bichinho ficou e no dia 26 de Agosto lá fomos.
Levei na mala o essencial… Roupa, alguns acessórios, papel e caneta… E trouxe muito mais!
A recepção foi fantástica, deu para perceber que iríamos ser bem tratados. Os sorrisos surgiram logo no primeiro instante.
Ficámos alojados num hotel de 5 estrelas, que é o mesmo que dizer que havia uma sala com camas para 42 pessoas, a água do duche nem sempre era quente, mas isso pouco importava. Receberam-nos de braços abertos, como se àquela terra pertencêssemos.
No primeiro dia, o destino foi a zona balnear das Escaleiras… Fiquei apaixonada. Tanto que nos dias seguintes voltámos lá. Mar bravio, que vinha até nós desde onde o olhar não conseguia alcançar. Água com temperatura amena, muito salgada, que nos permitia flutuar.
Nos restantes dias visitámos a cidade da Praia da Vitória (com um apontamento para a casa-museu de Vitorino Nemésio), o Museu do Vinho e a zona balnear dos Biscoitos, onde com pena não pudemos “provar” a água.
Visitámos também a cidade de Angra do Heroísmo, que é património mundial, com o seu museu de antiguidades feito por habitantes de lá como forma de preservarem as tradições e mostrarem como o tempo faz evoluir tudo, em que encontrei um véu igualzinho ao meu (que já vem do tempo das minhas bisavós), o Monte Brasil… E a Lagoa das Patas… Adorei! Tivesse eu mais tempo para me perder naquele lugar… Provei Chupa-chupas, que é o nome que vulgarmente dão a umas flores amarelas, lindas, que têm um sabor doce, óptimo. Nesse dia visitámos também a queijaria Vaquinha.
Participámos na procissão e nas festas do Sagrado Coração de Jesus, assistimos ao Bodo de leite, às touradas à corda… Almoçámos na zona balnear e de laser dos Salgueiros… E claro, não podia faltar a animação nocturna. Isto tudo na melhor companhia, que é o mesmo que dizer, o povo vilanovense.
A chuva e o vento dos primeiros dias não ajudaram muito, mas foram colmatados por um tipo de calor que temporal nenhum ali consegue levar, que é o calor humano. Gente alegre, bem disposta.
Nem a comida falhou. Saborosa, abundante, desde o peixe à carne de vaca, não esquecendo as sobremesas, hummm!!!
As paisagens, a vegetação, o cheiro… Não há forma de descrever!
E as vozes? Meu Deus, nunca tinha assistido a nada parecido. Aquele lugar deve fazer bem à garganta… E à alma também, com toda a certeza! Que terapia!
Grandes pessoas aquelas! Simples, humildes, com um coração gigante, com um sorriso estampado na cara, com uma disponibilidade única. Uma grande lição para nós, que voltámos com a bagagem mais composta!
Foi preciso ir aos Açores para ver, ao fim de 23 anos, o meu pai a chorar de emoção. Grande momento aquele!
Aprendi, já, que o que de melhor posso trazer de um lugar fica gravado no corpo, pelos abraços, pelos sorrisos, pelas sensações e pelos sentimentos, pelo que o olhar alcança e pelo que não conseguimos explicar. A memória de dias, de noites, de momentos. A saudade que nos aperta o coração.
Há coisas que ficam connosco para sempre. A Vila Nova, e a ilha Terceira em geral, já fazem parte desse grupo!
Sei que estiveste comigo o tempo todo e que te lembraste de mim estrelinha.
Obrigada.
E desculpa, não fui ao cemitério rezar por ti.
Não gosto, sabes que não gosto.
Prefiro conversar contigo ou escrever-te estas “cartas”.
Obrigada por continuares a fazer-te sentir, e por permitires que eu continue a sentir o teu sorriso e o teu carinho.
Estás, há quase um ano, nesse mundo que desconheço, que acredito ser lindo o suficiente para que te sintas bem.
Mas fazes falta por aqui. E eu sinto-a muito.
Luto todos os dias para chegar à noite e pensar que fui feliz, que valeu a pena, e faço-o sempre a pensar em ti.
Quero que tenhas orgulho nesta neta.
Foi no dia vinte e três o meu vigésimo terceiro aniversário, o primeiro sem te ver e sem te tocar.
O primeiro fisicamente sem ti. Mas contigo no lado esquerdo do peito.
Mas afinal quem foi este homem que causou tantas discrepâncias de opiniões?
Foi Saramago.
Como a própria planta que lhe deu nome, cujas raízes são apreciadas como condimentos picantes, ricas em vitamina C, potássio, cálcio, magnésio, fósforo, óleos voláteis, como o óleo de mostarda, que tem propriedades antibióticas, muito apreciada por uns e nem tanto por outros, também Saramago, o nosso Nobel, se revelou desde cedo um homem rico. Rico em carácter, em honra, em sabedoria, em amor à vida, em ideais.
Era um homem do mundo, que punha a liberdade no topo da sua ambição. Amado por uns, odiado por outros, que também, ao longo da vida, foi criando “anticorpos” contra quem o criticava – dando uso ao seu nome e “bebendo” dele.
Rebelde, astuto, inteligente. Sem dúvida, magnífico.
A sua leitura, estranha no início, revela-se depois muito agradável, dado o seu carácter fluente e natural, sem pausas longas, com um ritmo muito próprio. E os seus enredos permitem-nos como que uma “invasão”, de forma a fazermos parte dos mesmos e vivermos e sentirmos o que descreve.
Mas este homem, antes de ser homem foi menino… Que menino?
José de nome. Simples, lutador, interessado no mundo…
Há uns dias recebi de um amigo uma mensagem de telemóvel: “Hoje de manhã estava a ler uma notícia do Saramago em que diziam que ele gostava de olhar o mar… e lembrei-me de ti!”
Orgulho imenso senti nesse momento, embora milhares de pessoas neste mundo gostem de olhar o mar…
Na realidade, a Azinhaga onde nasceu Saramago não foi a mesma onde eu nasci, nem tão pouco foi a mesma que é hoje em dia – mais evoluída por sinal, mas ainda assim simples e bela.
No seu tempo era tudo mais pobre, as pessoas andavam descalças na rua, não sabiam ler nem escrever… Mas nem por isso eram menos sábias ou menos boas pessoas. Pelo contrário, eu creio. Viviam-se mais os afectos, vivia-se mais cada dia porque nunca se sabia o que viria depois. Apreciava-se mais cada pormenor de uma paisagem, o leito de um rio, o sorriso num rosto qualquer.
E ser simples, lutador e amante da vida não é de todos.
Ser ribatejano está nos genes, é ter garra, querer sempre mais sem esquecer as origens, que tanto são orgulho para cada um de nós. Ser ribatejano é isto. É ser genuíno. Como Saramago sempre foi.
E Azinhaga é isto mas num perímetro mais reduzido, é ter estas características e envaidecer-se com elas, é dançar nas ruas com a genuinidade de quem se olha ao espelho pela primeira vez e gosta do que vê, pensando porventura ser outra pessoa.
Todos nós sabemos que viveu em Lisboa, mas era das férias que gostava, passadas nesta nossa aldeia, a mais portuguesa do Ribatejo, que revitaliza quem cá passa porque permite beber dela, viver nela, ser-lhe coração.
Azinhaga é isto, é Ribatejo, éborda-d’água, lezíria, é campinoe é ceifeira, é pescador, é folclore. Éamor.
E o carácter de Saramago não deixava margem para dúvidas. Azinhaguense por natureza, ribatejano de alma e coração, português por orgulho. Nosso. Saramago.
(Este sopro foi escrito por mim e publicado no jornal "O Riachense". Quando a edição on-line for actualizada o link será colocado aqui, por forma a que todos possam ler a reportagem na íntegra, bem como o jornal em si. Obrigada.)
Tornou-se, este, o meu novo refúgio (o cais continua lá, no mesmo sítio, a disponibilidade para o frequentar é que tem vindo a diminuir).
No céu está a minha ambição e estão os meus sonhos.
Reflicto nele o quão longe quero chegar.
É lá que está o sol que traz calor aos dias,
as estrelas que iluminam as noites (e as estrelinhas de cada um a olharem por todos nós),
as nuvens que têm tanto de confortável por se parecerem com o algodão suave, como de desconfortável ao dificultarem a nitidez do azul lindo como forma de simbolizarem obstáculos a ultrapassar,
e os planetas e cometas e outros tantos que nos mostram que não estamos sozinhos.
Vivo num rés-do-chão, mas quando me debruço na janela consigo tocar lá.
Naquele céu que é meu.
Basta querer.
Basta fechar os olhos, abrir os braços e sorrir com convicção.
Se cair não me magoo muito, e sinto sempre que aqueles segundos valeram a pena.
Aprendi, já, que não somos o que comemos nem o que vestimos. Somos o que pensamos, o que desejamos.
Aquele café que estava difícil de se concretizar, que ela fez questão de pagar…
Ele era o mais improvável amigo que o A imaginava capaz de suscitar interesse nela.
E nada nessa noite indicava o contrário.
Ela teria 20 e ele 28 anos.
Foi o café…
um olhar ou outro…
uma troca quase inesperada de números de telemóvel, já no final.
Nada mais.
Estava certa, dizia ela, de não querer ninguém.
Depois veio um jantar…
um beijo…
e outro…
e o último que trocaram foi na manhã de hoje.
E os dias passaram a ter mais cor, uma nova textura, um novo sabor (mais doce, por sinal).
Hoje as certezas são outras e são comuns.
Ela tem 22 e ele 31 anos.
Este post não tem o propósito de comemorar nenhum aniversário, mas sim a vida.
Pequenos momentos, como este, que fazem a diferença.