Celebra-se hoje o Dia Mundial da doença de Alzheimer. Aquela que aparece lentamente, cujos sintomas são pequenos e insignificantes esquecimentos, mas que o passar do tempo e o avançar da idade transformam numa doença grave e sem retorno.
Tu foste só mais uma vítima no meio de milhares meu anjo. Infelizmente. Esquecias-te do avô, da mãe e de nós, querias ir fazer comida para os teus pais, dizias que aquele “hospital” tinha o chão igual ao da tua casa (porque era mesmo a tua casa e não a reconhecias), tentavas fugir, tiravas a chave da porta, tinhas ataques de hipotermia… Enfim, tantas coisas que nos assustavam.
Mas quando voltavas a ti eras a pessoa mais doce do mundo. Gostavas de beijinhos, de atenção, de carinho. Abraçavas-nos com espanto e com alegria, como quem não nos via há anos e estava cheia de saudades.
E tinhas um sorriso do tamanho do mundo.
Agora já não tens aqueles ataques, já não te esqueces de nós, já não foges de casa.
Mas também já não te podemos dar beijinhos, nem abraços, nem podemos ver o teu sorriso e dizer como estás bonita com o cabelo arranjado.
Já não te posso chamar piquena, nem canita, já não podes dizer que estou crescida.
A realidade é que quando me disseram há dois dias “vem ali a tua avó”, hesitei… O mais normal seria perguntar qual e, caso fosses tu, ir-te ajudar e abrir-te a porta.
Agora tens uma nova morada.
Já não necessitas dos nossos cuidados nem dos nossos mimos. Já não necessitas dos beijinhos.
Agora sentes tudo de uma outra forma, uma forma que não necessita de um corpo, da parte física.
Agora és mais livre que nunca meu anjo!
Que nó se formou dentro de mim quando te fui visitar! Ou melhor, quando fui visitar o teu corpo!
Porque, mais do que nunca, estás comigo, connosco.
A dor persiste, a saudade cresce.
Adoro-te!
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(prometo que vou trazer uma foto para mostrar a todos como eras bonita)