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"Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é so um dia mais."
José Saramago

quarta-feira, junho 30, 2010

...nosso Saramago


        
Como referi anteriormente, o link do texto encontra-se aqui.


          

            Romancista, poeta, dramaturgo, argumentista, jornalista… Esposo, pai… Enfim.
            Mas afinal quem foi este homem que causou tantas discrepâncias de opiniões?
            Foi Saramago.
            Como a própria planta que lhe deu nome, cujas raízes são apreciadas como condimentos picantes, ricas em vitamina C, potássio, cálcio, magnésio, fósforo, óleos voláteis, como o óleo de mostarda, que tem propriedades antibióticas, muito apreciada por uns e nem tanto por outros, também Saramago, o nosso Nobel, se revelou desde cedo um homem rico. Rico em carácter, em honra, em sabedoria, em amor à vida, em ideais.
            Era um homem do mundo, que punha a liberdade no topo da sua ambição. Amado por uns, odiado por outros, que também, ao longo da vida, foi criando “anticorpos” contra quem o criticava – dando uso ao seu nome e “bebendo” dele.
            Rebelde, astuto, inteligente. Sem dúvida, magnífico.
            A sua leitura, estranha no início, revela-se depois muito agradável, dado o seu carácter fluente e natural, sem pausas longas, com um ritmo muito próprio. E os seus enredos permitem-nos como que uma “invasão”, de forma a fazermos parte dos mesmos e vivermos e sentirmos o que descreve.

            Mas este homem, antes de ser homem foi menino… Que menino?
            José de nome. Simples, lutador, interessado no mundo…
            Há uns dias recebi de um amigo uma mensagem de telemóvel: “Hoje de manhã estava a ler uma notícia do Saramago em que diziam que ele gostava de olhar o mar… e lembrei-me de ti!”
            Orgulho imenso senti nesse momento, embora milhares de pessoas neste mundo gostem de olhar o mar…
            Na realidade, a Azinhaga onde nasceu Saramago não foi a mesma onde eu nasci, nem tão pouco foi a mesma que é hoje em dia – mais evoluída por sinal, mas ainda assim simples e bela.
            No seu tempo era tudo mais pobre, as pessoas andavam descalças na rua, não sabiam ler nem escrever… Mas nem por isso eram menos sábias ou menos boas pessoas. Pelo contrário, eu creio. Viviam-se mais os afectos, vivia-se mais cada dia porque nunca se sabia o que viria depois. Apreciava-se mais cada pormenor de uma paisagem, o leito de um rio, o sorriso num rosto qualquer.
            E ser simples, lutador e amante da vida não é de todos.
            Ser ribatejano está nos genes, é ter garra, querer sempre mais sem esquecer as origens, que tanto são orgulho para cada um de nós. Ser ribatejano é isto. É ser genuíno.   Como Saramago sempre foi.
            E Azinhaga é isto mas num perímetro mais reduzido, é ter estas características e envaidecer-se com elas, é dançar nas ruas com a genuinidade de quem se olha ao espelho pela primeira vez e gosta do que vê, pensando porventura ser outra pessoa.
            Todos nós sabemos que viveu em Lisboa, mas era das férias que gostava, passadas nesta nossa aldeia, a mais portuguesa do Ribatejo, que revitaliza quem cá passa porque permite beber dela, viver nela, ser-lhe coração.  
            Azinhaga é isto, é Ribatejo, é borda-d’água, lezíria, é campino e é ceifeira, é pescador, é folclore. É amor.
            E o carácter de Saramago não deixava margem para dúvidas. Azinhaguense por natureza, ribatejano de alma e coração, português por orgulho. Nosso. Saramago.


(Este sopro foi escrito por mim e publicado no jornal "O Riachense". Quando a edição on-line for actualizada o link será colocado aqui, por forma a que todos possam ler a reportagem na íntegra, bem como o jornal em si. Obrigada.)

domingo, junho 13, 2010

O meu céu



Da minha casa não vejo o mar.
Mas vejo o céu.
Tornou-se, este, o meu novo refúgio (o cais continua lá, no mesmo sítio, a disponibilidade para o frequentar é que tem vindo a diminuir).
No céu está a minha ambição e estão os meus sonhos.
Reflicto nele o quão longe quero chegar. 

É lá que está o sol que traz calor aos dias, 
                  as estrelas que iluminam as noites (e as estrelinhas de cada um a olharem por todos nós)
                                    as nuvens que têm tanto de confortável por se parecerem com o algodão suave, como de desconfortável ao dificultarem a nitidez do azul lindo como forma de simbolizarem obstáculos a ultrapassar, 
                                                        e os planetas e cometas e outros tantos que nos mostram que não estamos sozinhos. 

Vivo num rés-do-chão, mas quando me debruço na janela consigo tocar lá. 
Naquele céu que é meu.
Basta querer.
Basta fechar os olhos, abrir os braços e sorrir com convicção.
Se cair não me magoo muito, e sinto sempre que aqueles segundos valeram a pena.

Aprendi, já, que não somos o que comemos nem o que vestimos. Somos o que pensamos, o que desejamos.
E somo-lo na medida da nossa convicção.
É por isso que gosto de ser pequenina…
Para poder sempre crescer.

Obrigado.