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"Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é so um dia mais."
José Saramago

segunda-feira, março 24, 2008











As lágrimas confundem-se,
No brilho do olhar, com o cansaço.
Sorriso mal dado
Num desvario de emoções.
Coração latejante.
Bate depressa em compasso…
Olho semicerrado,
Brilhante,
Não baço.

Vulcão em chama
Que medita e sente,
Que finge e mente,
Que ama à desgarrada.

Corpo delicado
Vestido de mulher
Que é espada
Fogo
Cetim.
E tudo quanto quer.

Que arde, fere e aconchega.
Aqui e agora.
Que rejubila perante o mundo.
Porque o outrora
É só barulho de fundo.

sexta-feira, março 21, 2008

Páscoa Feliz!

Hoje vou postar o texto que postei há um ano, na mesma época.
Sugiro um momento de reflexão...
Sem imagens, as palavras falam por si.
E desejo a todos uma Páscoa Feliz!


“Senhor, esta noite deves estar fatigado, pois estiveste que tempos na bicha do centro de desemprego. Esta noite deves estar humilhado, pois ouviste quantas e quantas reflexões dilacerantes. Esta noite deves estar sem coragem, pois amanhã...
terminarão os Teus direitos:
o direito de Te alimentares;
o direito de sustentares a Tua família;
o direito de viver...
Só Te resta o direito de morrer.
Senhor, esta noite como deves sofrer! Pois eras Tu aquele desempregado que encontrei há uma hora atrás.
Eras Tu, eu sei, porque Tu mo disseste no teu Evangelho: “Eu estava nu, sem abrigo, doente e preso...” desempregado!
Eras Tu, eu sei, mas depressa o esqueci.
Senhor, quão longo é o teu caminho para a Cruz!
E eu que o julgava terminado!Julgava que tinhas, finalmente, chegado lá a cima, ao Gólgota, ao fim de tantas horas de tortura, no auge dos anos trinta e qualquer coisa.
Eu sabia que tinhas vindo até nós, como nós, um entre nós, e que Te tinham visto andar pelo nosso caminho, ocupando fielmente o teu lugar na longa fila dos sofrimentos.
Mas eu não sabia que o teu caminho de Cruz estava inaugurado já de há muito, desde o início dos tempos, quando os primeiros homens, sobre as primeiras terras, sofriam as suas primeiras dores. E não sabia, também, que ele só terminará quando os últimos homens tiverem soltado os seus últimos gritos, nas últimas cruzes.
Pois Tu, Senhor, há dois mil anos, levaste até ao fim a Tua parte, fielmente, perfeitamente.
O caminho da Cruz dos teus irmãos é longo. Muito longo. E Tu não deixaste de ser com eles, por eles, Explorado, Rejeitado, Humilhado, Aprisionado, Despido, Torturado, Crucificado.
Corpo e coração dilacerados, prolongando no tempo o teu sofrimento supremo, em todas as cruzes do mundo, que os homens ergueram.
Agora aprendi, Senhor, que aquele que ama sofre a dor do amado. E quanto mais ama, mais sofre. E tu, que amas infinitamente, sofres infinitamente por nos ver sofrer. É assim que, encarnando perfeitamente todas as nossas dores, Tu és, Senhor, nos teus membros, crucificado até ao fim dos tempos. É essa a tua grande Paixão... do sofrimento e do amor.
Mas esta noite, ao rezar, perante eles e perante Ti, penso também, Senhor, que as cruzes dos homens não aparecem sozinhas.


Somos nós próprios que as fabricamos, em cada dia, pelos nossos egoísmos, pelos nossos orgulhos, no longo mostruário dos nossos múltiplos pecados.
Somos fabricantes de cruzes!
Artesãos por conta própria,
ou em conjunto,
industriais perfeitamente organizados.
Produzimos cruzes em série,
cada vez mais numerosas,
cada vez mais aperfeiçoadas.
Cruzes para homens a morrer de fome.
Cruzes para combatentes em campo de batalha.
Cruzes e cruzes e cruzes...
Sempre cruzes.
De todas as formas e tamanhos.
E se precisamos, Senhor, de ser Simão de Cirene para os nossos irmãos que sofrem, precisamos, também, de lutar todos juntos...
para desmantelar as nossas inefáveis fábricas de Cruzes!”

sábado, março 01, 2008

Cruzamento



Dou por mim a pensar... Pois, porque eu penso demais sobre tudo e analiso tudo vezes sem conta e quase sempre encontro coisas novas.
Cruzo-me...
Com várias pessoas, em vários caminhos, com vários sentires.
Reflicto!
Eu própria vivo num cruzamento entre o campo e a cidade.
O campo viu-me nascer e a cidade acolhe-me todas as semanas.
A água já salgada do Tejo recebe as minhas lágrimas e os meus sorrisos, e conhece todos os meus sonhos. Os mesmos que a água ainda doce do mesmo Tejo só conhece porque lhe vou contando, nas bruscas visitas de fim-de-semana.
Existem diferenças, é claro, mas serão assim tantas?
Então reparo...
Na cidade a vida corre, no campo “vai-se andando”...
Diz-se que as pessoas do campo são mais alegres.
Não creio!
Choram da mesma forma, apenas têm as cebolas para camuflar os motivos... As mesmas que, na cidade, são vendidas aos cubos, na zona dos congelados dos grandes hipermercados.
Desta forma, concluo.
Sou campónia e citadina. E orgulho-me de tal facto.
Tenho em mim um mapa-mundo e espero ter força e inteligência suficientes para chegar longe.
Não em naves, nem em carros super potentes. Apenas com os meus próprios pés. Sem sapatos.
Os sítios por onde passo e os seres com quem me cruzo formam o meu maior castelo, ao qual chamo vida, e cada um é parte integrante do mesmo.



Assim, e só assim, gosto de caminhar...
Porque o mundo é uno, as pessoas é que teimam em dividi-lo.